segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

eu título

Eu quero te fazer sangrar, pra te fazer sentir um pouco do que dentro de mim se passa
Quero te bater, te espancar, te agredir, assim como tu fizeste comigo sublimemente.
Como um chicote em meus couros já tão surrados
Como uns pregos cravados blasfemamente em minhas mãos
Eu sou todo o sofrimento do mundo em um grito
Eu sou todo o lamentar contido e calado
Quero te fazer beber todas as lágrimas que tu me fizeste verter
Eu quero te ver chorar, pra provar ao mundo todo que o único derrotado não fui eu
Quem perdeu esta guerra foste tu, ó estúpido ser
Tu me tiveste em tuas mãos e tal qual papel, amassaste e me jogaste
Tu me tiveste sufocado debaixo das tuas asas e ainda assim me fizeste voar
Tão longe queria estar, mas sou tolamente atraído pelo calor do ninho, maldito!
Tão outro queria amar, mas me fizeste preso ao que tu me juraste ser eterno
Estou sufocado, maculado, denegrido, estou sangrando, estou ilhado
Eu sou o último suspiro daquele que arqueja
Sou o único que não ficou à sombra da grande árvore
Estou sozinho neste vale escuro da minha própria existência
Caminho só e a curtos passos na minha própria escuridão
Quero sentir o medo que de mim emana
Quero sentir a dor que em mim já há tempos fez morada
Eu sou o sofrimento do poeta adoentado
O mal do século sou eu, em sobrenome e existir
Queria te fazer sofrer somente um tanto do quanto sofro
Queria macular com sangue esta tua felicidade fingida
De mim só o desejo de ter sido algo que nunca quis
Na dúvida que me puseste, fiz morada e hoje transito
Tal qual o tolo não sei que caminho seguir
Tal qual o tolo ainda a querer de ti
Tal qual o tolo amar-te, amar-te torpe, um amar sombrio.
Tal qual um tolo, amar-te todo, um amar vazio.

Bruno Sampaio, 3/11/11

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Qualqueres

O momento clama por poesia
Poesia ou qualquer coisa que preencha esta vida já tão vazia
Nem é preciso muita coisa, nada tão elaborado
Tal qual um estomago vazio há tempos, a saciedade vem com pouco
A felicidade vem com pouco, com qualquer coisa, uma esmola qualquer
Acostumado a este vazio anoréxico-existencial, até o vazio seria mais preenchido do que este triste poeta.
Queria um amor qualquer, um amor tranquilo, um amor mendigo.
Qualquer coisa, um beijo suave, até por telefone
Um carinho de leve, um suspiro, um pulsar
Qualquer destas coisas com que qualquer apaixonado qualquer se inflama
Queria um fogo, uma chama, uma vela
Uma luz, um sol
Queria um pouco de nada, um pouco de tudo, um pouco daquilo que não se sabe, mas que se sabe que se precisa.
Talvez esteja tão confuso quanto tudo que está aqui dentro
Talvez esteja tão vazio quanto tudo o que há em mim
Me ponho a vomitar um sentimento que nem sinto
Preciso me expressar, pois já é tudo o que resta e o que tenho.
E já nem tenho nada, quiçá tudo!
Vou voltar à madrugada e ao silêncio
Ao choro e a depressão
Ao sofrer e ao penar
Sintomas qualquer de um qualquer que tudo perdeu
Até a si.

Bruno Sampaio, 7/11/11.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Eu sou todo uma ferida
Aberta, purulenta, sádica, suja, indesejada
Eu sou um pus, sou todo um sofrimento
Ardente, quente, pulsante, vivo, fulgás
Sou a tortura do escravo
Sou a corda do enforcado,
O grito do ferido, o choro da criança
Eu sou o prego de uma cruz, a de Jesus, a mais sofrida
Eu sou o sangue de um parto, um aborto, o sofrimento
Eu sou o frio, o calor, a dor, o indesejado,
Sou a alma vendida ao Demônio, sou o grito, o gemido,
Eu sou a moeda falsa neste câmbio impuro
Eu sou a água do afogado, o fogo do queimado, a cicatriz de toda dor
Eu sou amor, eu sou amor.
Eu sou tudo aquilo que não quero,
Eu sou a própria lágrima da minha poesia.
Eu sou o sangue que mal pulsa em mim
De um órgão tão ferido, necrosado, quase morto.
Eu sou um terço mal rezado, uma prece calada,
Eu sou o sofrimento do poeta
Eu sou a solidão.
Eu sou tão eu que me assusto.
E eu não durmo.
E eu sofro. E eu amo.

Bruno Sampaio