quarta-feira, 6 de julho de 2011

Eu sou todo uma ferida
Aberta, purulenta, sádica, suja, indesejada
Eu sou um pus, sou todo um sofrimento
Ardente, quente, pulsante, vivo, fulgás
Sou a tortura do escravo
Sou a corda do enforcado,
O grito do ferido, o choro da criança
Eu sou o prego de uma cruz, a de Jesus, a mais sofrida
Eu sou o sangue de um parto, um aborto, o sofrimento
Eu sou o frio, o calor, a dor, o indesejado,
Sou a alma vendida ao Demônio, sou o grito, o gemido,
Eu sou a moeda falsa neste câmbio impuro
Eu sou a água do afogado, o fogo do queimado, a cicatriz de toda dor
Eu sou amor, eu sou amor.
Eu sou tudo aquilo que não quero,
Eu sou a própria lágrima da minha poesia.
Eu sou o sangue que mal pulsa em mim
De um órgão tão ferido, necrosado, quase morto.
Eu sou um terço mal rezado, uma prece calada,
Eu sou o sofrimento do poeta
Eu sou a solidão.
Eu sou tão eu que me assusto.
E eu não durmo.
E eu sofro. E eu amo.

Bruno Sampaio