sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Mexendo no computador do depósito, encontrei esse texto, que foi escrito dia 21 de outubro. Já faz um tempinho. Como amo meus textos frios, textos que leio tempos depois e gosto ou desgosto, resolvi postar esse, que, particularmente, gostei bastante.
Engraçado a quantidade de textos meus que devem ter sido perdidos por aí, pelos computadores e papéis da vida... Mas é isso, né? Na hora, a gente faz o parto e não se preocupa muito em guardar e nem em levar para adoção, enfim, eis ele:

"Eu sempre quis. Com uma obsessão que me era tão particular quanto o modo de querê-lo.
E queria muito. Sonhava com isso noite e dia e imaginava alcançar a todo momento.
Era um tanto quanto inatingível, mas não deixava de esperar, de aguardar pacientemente. Até aos santos recorri, em um ato mais desesperado.
Sempre me senti meio vazio com toda a minha poliqueixose diagnosticada por alguns amigos mais próximos. Talvez as minhas queixas nada mais fossem que uma forma de me preencher, nem que fosse com palavras, já que era tudo um vazio tão sombrio que me assustava.
Não estava acostumado a dormir só, mas também não recorria a companheiros imaginários. Era eu e meus pensamentos naquilo que julgava que me faria feliz. Me sentia confortável ao imaginar situações felizes, me sentia preenchido, acompanhado, dormia com alguém, ou com o desejo de alguém.
Com o tempo as coisas foram piorando e o vazio foi aumentando. Não conseguia mais controlar, era algo que me fugia às mãos e das mãos, a cada dia que passava. Só me culpava pelo que não pudia ser culpado, mas eu era assim, eu sou assim.
E assim, sendo do jeito que sou, sou tão vazio, tão oco, tão só. Só eu e meus pensamentos me acompanham. E eles me criticam, mas são sempre companheiros, diferente do que quero."

Bruno Sampaio.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

dis-Faces

Eu não me mostro
Eu não me demonstro
Eu só me abro para a minha poesia
Na face um sorriso aberto, expressivo
No peito uma lagrima latente, pungente
Eu não me abro, eu não me entrego
Eu me escondo, eu me afugento
Eu me abrigo nos meus versos
Eu ouço o som da minha métrica e nele me afogo
Eu me abismo, eu me lanço, eu me choro
Eu não me exponho
Eu sofro só, calado, na calada calada da noite
Eu penso, eu reflito, eu abstraio
Eu me refugio, eu me distraio
Eu sou eu, meu sofrimento e eu mesmo
Para todos, sou felicidade constante, abraços, sou um momento alegre
Para mim sou fracasso, sou abandono, sou solidão
Sou um porto à ver navios
Sou um peixe que nenhuma rede envolve
Sou livre e sou eu mesmo
Sou minha angústia e meu desespero
Sou minha sinceridade e minha vontade de viver
Não, não sou a vontade de viver.
Sou a verdade e isso aniquila tudo isso.
E isso me aniquila.


Bruno Sampaio.