quinta-feira, 26 de novembro de 2009

lembranças

Essas histórias me deixam mal
Elas têm o cheiro
Têm o sabor da lembrança
Elas têm o prazer do passado, a utopia da esperança
Elas têm um quê de infelicidade, elas têm um pouco de saudade
Elas são acompanhadas do vazio, elas têm a solidão andando de mãos dadas a elas
Elas têm as lágrimas dos fins de semana, elas têm as ligações fraternas intermináveis
Elas têm a angústia do momento ouvido, elas têm a tristeza de um passado vivido
Elas têm o cheiro da pessoa amada, tão longe, tão longe, largada
Elas têm uma vida inteira mais que amada
Elas têm o soluço do pranto do fim
Elas têm a mim.
Elas vivem em mim.
Eu sou ela, eu sou a lembrança de mim.
Sou a representação do fim.

Bruno Sampaio.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PRETO

O branco me seria mais concreto que qualquer outra cor
Me seria apagado, destruído, acabado
Deletado, pra ser mais moderno, esquecido, pra ser mais adoentado
O branco seria o amor superado
O bobo, abestado
O dono do amor inatingível, o sonhador dos sonhos abstratos
O branco seria a paz
De um espírito distante, amargurado
O branco seria um papel, riscado por uma poesia não coesa
O branco seria tudo e nada, ao mesmo tempo
O branco seria a superação, seria a ação, abstração
O branco me seria simbólico, me seria forte, me seria concreto
Tão concreto quanto o preto, que emagrece
O branco me daria a forma, me seria uma prece
Rezada calada, na calada da noite, com sofrimento bastardo, amor inacabado
O branco seria meu amor, seria minha dor, meu pranto, meu sofrimento
O branco seria colorido, seria incolor, o branco seria o que eu devia sentir
O branco seria Deus, tão desacreditado por mim
O branco seria abstrato, inconcreto, o branco seria um cimento
O branco seria uma viga, uma laje, o branco me seria um traje
Um clamor de mim mesmo
O branco me seria um espelho
O branco me seria um reflexo de alma, o branco seria minha calma
O branco me seria de uma cor de dor
E de alegria
O branco seria o meu amor
Tão amado, tão clamado, tão exaltado
O branco me seria feliz
Mais feliz ainda se dele pudesse esquecer
O branco seria o oposto de tudo o que vivo
O branco seria o barroco neoclássico que surgiria
O branco me apagaria
O branco não seria o preto
Que me consome em seu luto, em sua falta de cor,
De amor.

Bruno Sampaio






(Acho que esse foi o texto que escrevi e publiquei com o menor intervalo de tempo, de todos, nem esperei esfriar)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Incrível como a palavra "pulsar" aparece com tanta freqüência naquilo que escrevo. Às vezes, me impressiono. Escrevi esse texto hoje, numa aula de Metodologia do Trabalho Acadêmico:


Era um eterno pulsar de desconfiança. Tudo: a vida, os estudos, o amor. Desconfiava de si e dos outros com uma maestria assustadora.
Tentava objetividade, em vão. A prolixidade existencial lhe era tão arraigada que lhe definia.
Era um Decartismo eterno: se punha em dúvida sobre tudo.
Desconfiada, andava, com seus passos pesados, tristes, acompanhantes de uma sinfonia fúnebre.
Queria amor. Na verdade, queria ser amada, queria que uma alma viva, mesmo que por caridade, demonstrasse amor por ela. Ela não se amava, não cuidava de si, os cabelos desgrenhados e secos eram testemunhas de seus maus tratos interiores que se refletiam em sua casca. E apenas assim se via: como uma casca. Uma casca inóspita, vazia, oca, quase inexistente.
Tentava, por vezes, fingir segurança, mas sempre falhava. Gaguejava, roía-se, olhava um alvo abstrato, mas nada lhe valia, ou servia.
Suas colunas de sustentação interior já estavam destruídas demais. Nem um aspecto saudável conseguia manter.
Quando chegasse em casa, choraria em cima de seu travesseiro, já úmido, e tentaria se consolar em seu pranto. Sabia que permaneceria assim para sempre, até o fim, que, certamente, já estava bem próximo.

Bruno Sampaio.

Dicotomia abstrata

Pulsante e parado
melhor definido
Amor acabado
Nenhum sentido
Laços errôneos
Sentimentos partidos
Dualidade ilógica
Matrimônio ungido
Egoismo egocêntrico
Sofrimento fadado
Amor proibido
Alguém encantado
Falsidade fingida
Percepção do contrário
Vontade distante
Acontecimento arbitrário
Fim do caminho
Final do cenário
do amor
da dor
do ouvir
do sentir
do pulsar
do viver.
.OCO.

Bruno Sampaio.

(Esse texto foi, especialmente, escrito para descrever um momento bem pessoal, há alguns dias).
Engraçado: algumas vezes, escrevo algumas poesias em papéis soltos, perdidos. Depois que tive meu guarda-roupa furtado, minha mãe me ajudou a procurar o que, supostamente, poderia estar em alguma gaveta minha e foi excluindo alguns papéis. Dentre eles, tinha um verde, sujo, amassado e ela amassou e ia colocando no lixo.
Tomei o papel dela e disse que era uma poesia. E era. Ia sendo perdida, como tantas outras, mas conseguir salvar. É boba, ok, mas vou deixar ela registrada.

Tristeza perdida

Há tempos o desejo de escrever me consome.
Penso e repenso
e nem a nódoa da inspiração me mancha
Depressão é essencial
senão para viver, para escrever
Falar do mau é bom, fácil
É vivo, é real, pulsa
Felicidade não cabe em mim
não fui feito para ela
São dois pesos e duas medidas
Que fogem ao meu sistema métrico
pois pulso

Bruno Sampaio.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Acho que estou numa fase infantil da minha poesia. Não consigo escrever nada de muito profundo, nem nada de meio rebuscado, nem nada que me deixe admirado depois.
Geralmente, escrevo e deixo esfriar, depois, quando leio, se me impressiona, publico, se não me impressiono, deixo se perder em meio aos mais variados arquivos que possuo.
Essa semana me veio um fio de inspiração legal, mas tava tão legal e eu numa fase tão ruim, que nem quis escrever. Hoje me arrependo rs
Escrevi essa faz poucos dias e só gostei do final. Mas como não será usada em livro, vou postar aqui, no blog:

(in)definições

Queria me definir, mas que outro jeito, senão pela poesia?
Que jeito seria tão menos objetivo quanto a vontade que tenho para me registrar em palavras?
Qual a impressão pessoal da total impessoalidade que poderia ter, senão feita através de uns traços poéticos?
Mal feitos? Sim, mas completos naquilo que busco
E me busco, e me busco e não me acho
Pelo menos, seriam, no mínimo, completos em sua essência e naquilo que espero de mim
Nada muito cartesiano e nem objetivo
Não devo me encaixar na dialética da vida, tenho várias faces, vários planos me rodeiam, permeio por entre os meios e me perco
E me busco, e me busco e não me acho
Queria me definir na poesia e ainda assim encontro o obstáculo da música das palavras
Tão sonoras são, coitadas
Tão vazio estou, coitado
Me perco na vida e me encontro nas palavras e ainda assim não me defino
Como é difícil se descrever um homem, ó céus.
Se Deus estivesse ao meu lado, talvez tudo fosse mais fácil, mas nem isso
Tudo bem que não o procuro, mas não o deveria perdê-lo
Deveria adorá-lo, como cristão, talvez
Um ato de fé
Nas horas de solidão ele não me é o mais companheiro
No fim das contas, só sobram eu e meus versos, que sempre me acompanham
Me engrandecem, me consolam, me expressam, mas não me definem
Meus versos não me limitam
Me busco, me busco, me busco neles e não me acho.
Talvez seja tão difícil de me definir porque sou a própria poesia.


Bruno Sampaio.