sábado, 10 de abril de 2010

Ferino

Um felino, dono de si e do seu ego
Um felino, preso a sua sabedoria inexorável
Com medo
Medo do futuro, dos passos, dos dentes, dos beijos
Medo dos dardos, dos fardos, dos tiros
No escuro, no breu, no clarão tão claro de um raio
Que tudo por si destrói em seu tormento languido, rápido, ríspido
Um felino cujas arestas desconheço e por onde traços infindáveis não são traçados
Por medo
Medo do que veio e do que queria, do que não queria e do que nunca quis e quis, ao mesmo tempo
Ao mesmo tempo e no tempo de sua duvida ilógica
Um felino, um tigre forte, um gato
Um rato, um sapo, uma rã
Presos a si pelos ramos de uma selva irrastreável
Quanto tudo o que se procura e o que se acha
E o que se busca mesmo sem querer
Tão vivo e tão morto quanto o lodo numa pedra fria
Tão fria quanto o que teima em bater
Tão dura quanto o que teima em existir
Tão inexistente e sem sabor quanto o ar que a circunda
É a dúvida
A dúvida e o alimento dela
É o medo, a angústia, a suposição
É sufoco, é algema, são braços que teimam em abraçar o que não quer seu aconchego.
É tudo aquilo que queria e não mais quero
Não desse jeito.
Felino, dono de si, independente.
Seguirá sempre lambendo o corpo e limpando a alma.
Sozinho, como tudo o que o cerca.
Como sempre fora.
Felino e ferino.
Só.

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