segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sempre me senti patético quando estava feliz
Estar feliz é um eterno ato de improdutividade científica e emocial.
Estar feliz é voltar-se para o próprio umbigo e rir-se.
Existe algo mais bobo e inviável que a felicidade de um romance?
Ora, meus caros, estar feliz é se desligar no mundo e viver dentro de você uma euforia circense.
É estar num picadeiro, como um palhaço, um bobo da corte, vendo graça aonde não tem.
É deixar o senso crítico de lado e achar belo o abominável.
A beleza está nos olhos de quem vê, dizem.
Discorto da assertiva, em estado normal. Estando feliz, concordo e assino com meu nome, o verdadeiro, não meu eu poético.
Meu eu poético é triste, amargurado, depressivo.
Meu estado feliz é patético, bobo, amébico.
Tão amébico que não me ponho a pensar, tal qual uma ameba, uma ameba burra, acrescento.
Não me sinto feliz por escrever estas palavras, tão bobas e vazias.
Mas estou feliz e é o que tenho a voz oferecer.
Na verdade, a me oferecer. E acho pouco, pois não me sinto feliz em estar burro.
Gosto muito de quando me penetro, de quando me mergulho, de quando me embalo, me contradigo, me machuco, me maltrato.
Mas e agora? Mergulho em mim e vejo um aquário com peixes dourados.
Me penetro e estou num show de uma dessas bandinhas da moda.
É tudo moda como a felicidade. A felicidade não existe e teimo em insistir.
Se existisse, não chegaríamos aonde chegamos porque a felicidade é burra, é cega, é patética, assalariada, conformada, é alienada, a felicidade é uma via de uma mão e que não aceita marcha ré. É inviável.
A felicidade é um eterno estado infeliz de um espírito pobre.
Só evoluímos na tristeza, na doença, na miséria.
Agora, meus caros, me perguntem se quero estar infeliz para escrever meio punhado de palavras?
Responder-lhes-ia: sim, mas está sendo tão bom estar patético.
Deixe-me neste estado passageiro. Deixe-me sorrir, enquanto posso.
Depois a vida vira sua real face para mim e eu volto a produzir, volto a viver.
Volto à infelicidade de sempre, à tristeza de sempre, à programação normal.
E que a felicidade não se faça constante, pois ela é vil.
É um fel cujo gosto amargo é feito vodka e embriaga.
Não: a felicidade é uma cachaça.
É uma cachaça de um peão de trabalho maquinal.
A felicidade é a própria bêbada.
Ela é boêmia.
E se faz em mim.
Amargo triste boêmio feliz.
Mas doce.

Bruno Sampaio

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