segunda-feira, 8 de junho de 2009

Geralmente, de noite, é difícil se ter algo de interessante para comer, aqui em casa. Quando não preparo algo ao meu gosto, ou quando não vou comprar algo no mercantil, passo na casa da minha avó, porque lá é garantia de boas comidas e de guloseimas para o querido neto aqui. Sempre foi e sempre será assim. Até a carne da minha avó é diferente, é mais macia, mais suculenta, mesmo que não seja de primeira qualidade.

Decidi que iria comprar uma lasanha no mercantil e fui lá. Costumo dizer que nasci para ser grávida ou velho: detesto pegar fila e, a contragosto meu, era isso que tinha, de sobra, no mercantil: filas e mais filas. Até o caixa rápido estava lento, enfim. Desisti da idéia do mercantil e fui pra minha segunda opção: a casa da minha avô (anteriormente, minha tia tinha me ligado dizendo que a geladeira estava abarrotada de coisas boas. Aposto que foi só pra "bulinar" na minha pobre alma de ex-obeso-sedento-por-coisas boas).

Chegando lá, tinha uma amiga e um amigo do meu avô que moram em Portugal e que foram fazer uma visita ao velho poeta. Entrei, cumprimentei todos e segui logo pra cozinha, pra ver o que tinha de bom e "fazer logo o meu mercantil", gratuito, nesse caso.

Quando eles estavam saindo, fui junto. Nas despedidas, estavam falando de poesia e meu avô soltou essa:

"Depois de cego, eu pedia pra Solange ler alguns dos meus livros pra mim e tinha a certeza de que aquilo não tinha sido eu que tinha escrito. Quando eu escrevia, eu sentia que era uma inspiração de fora que vinha, algo que incorporava, não sei explicar."

Eu achei isso absurdamente lindo e inspirador. Não inspirador pra mim, mas sei lá, a situação em si é inspiradora. Até porque eu nunca percebi que nada incorporava em mim quando eu escrevia.

Na verdade, quando leio alguns textos escritos há um tempo, fico surpreso, acho bonito, acho muito lindo, pra falar a verdade, me surpreendo com aquilo que escrevi e, às vezes, chego a pensar que não fui eu que escrevi. Tá, não que eu queira ser O POETA, como meu avô é, mas é bem isso que eu sinto.

Por outro lado, quando leio alguns outros textos que escrevi, chego a pensar que sou um patético escritorzinho chulo que pensa saber brincar com as palavras e com os sentimentos e, com isso, imagina que as futilidades que escreve podem tocar alguém. Lógico que esse é o objetivo: tocar alguém, mesmo que esse alguém seja eu.

É estranho. Talvez eu possa ser um meio-escritor, ou um fanfarrão qualquer que pensa saber escrever, mas não sei. Aliás, se tem algo que não tenho domínio é da língua. Gramática, assim como física moderna, são assuntos que nunca tive domínio. Já disseram que é quase um Patativismo do Assaré, já disseram que lembram Clarice, já disseram que tenho minha personalidade própria, enfim, só sei de uma coisa: nunca chegarei aos pés do meu avô, de quem sou fã. Não é pra qualquer um ter Carlos Drummond em um dos prefácios de seus livros, ou trocar cartas com Jorge Amado.

E o engraçado disso tudo é que ele não se sente capaz de ter seus livros publicados. Sempre se recolheu ao ambiente familiar e suas artesanais publicações só chegaram às mãos de filhos e amigos, embora se tenha notícia de que algumas dessas obras têm cópia em uma biblioteca de Nova Iorque.

Mas fica aqui o objetivo, agora registrado: eu vou publicar, mais cedo, ou mais tarde, as obras do meu avô.

(Ah, e se alguém quiser ler alguma poesia dele, é só pedir, nos comentários, que eu coloco)

:)

3 comentários:

  1. Adorei o post Bruno, realmente acontece de negarmos aquilo que nós mesmos escrevemos ou mesmo falamos. Mas é consequencia das nossas mudanças interiores...estamos em constante mudança. Já dizia a letra: "...eu prefiro ser essa metamorfose ambulante...". E eu quero ler algo do seu avô sim, com certeza será enriquecedor! ;D

    ResponderExcluir
  2. Nem sempre as coisas que escrevemos são boas, às vezes são, às vezes não. Se eu não me engano, G.G. Márquez dizia que quando escrevia uma poesia, ele colocava na gaveta, e, se depois de algum tempo, ele lesse e aquilo fosse capaz de o emocionar, ele considerava realmente uma poesia.
    E, com certeza, eu gostaria de ler algo do seu avô. :)

    ResponderExcluir
  3. Nossa! tô impressionado, Bruno tu escreve divinamente, de um jeito agradavel de se ler. Bom, eu gostei e queria ver tbm algo do teu avô, que orgulho! ^^ =*

    ResponderExcluir