terça-feira, 2 de junho de 2009

Ela

A conheci em meus tempos de escola, faz um tempo considerável. Minhas cãs ainda não haviam despontado e minha pele ainda tinha uma consistência saborosa. Conseguia enxergá-la tão bem, por vezes, me sentia uma águia, conhecia, praticamente, todos os poros da pele dela, além da medida precisa de todos os fios de cabelo (eu sempre admirei seus cabelos longos, castanhos, e sempre fiz questão de acariciá-los, como se com um toque meu, eles se tornassem mais brilhosos e minha vida mais ilumidada). Todos os detalhes, todos os vícios, tudo que ela fizesse me parecia grandioso.
Logo nos tornamos cúmplices. Era um amor sem atração, ainda que bem atraído e junto.
A confiança não tardou a vir, nem os risos, as confidências. Ela tinha o dom de transformar cada momento sacal no mais interessante e apaixonante momento. Eu, sempre péssimo em gramática, me sentia o invetor do latim, quando estava do seu lado.
Era mágico e ela sabia tornar sublime. Eu a amava. Mas nunca passou de amor. Acho que nem tinha como passar. Não queria possuí-la e nem a queria longe, ao meu lado era sempre o melhor local. Não gostava de dividí-la com amigos. Ficava bobo e queria que minhas piadas sempre fossem as mais engraçadas, para que eu pudesse ver aquele brilho metálico do seu aparelho, que, tempo depois, foi removido.
E cada um tomou seu rumo. Ela, sempre decidida, foi em busca de seus sonhos. Eu, indeciso e sem ela, patinei em algumas coisas, testei algumas outras. De certeza mesmo, só a que eu a amava. E sabia que ela me amava. Pra mim era tão claro. Com um olhar, eu sabia que ela precisava de mim, dos meus conselhos, do meu ombro. Sempre fui muito agitado, mas ela confiava em mim. Ela confiava em mim mais do que eu mesmo. Durante esse tempo todo, ela me deu sabor à vida. E depois de tanto tempo, tanto tempo, percebo que ela é tão importante pra mim quanto minha esposa, ou quanto os meus filhos, que lógico, a chamam e a têm como tia (por parte de pai, porque ela é mais que uma irmã pra mim). Nela vejo a representação da amizade e chorando, com as mãos tremendo (ela que diagnosticou meu Parkynson e que me apoiou durante toda minha adaptação à doença), tento arranjar alguma forma de homenageá-la, mas não consigo. Tudo o que eu fizer é pouco diante do que ela representa pra mim. Ela é mais do que tudo o que eu possa escrever, é superior a qualquer metáfora que minhas mãos possam desenhar. Ela é assim e nada que eu venha a escrever a retrata da melhor forma. Talvez com um abraço apertados, do jeitinho que ela sabe que eu gosto, eu consiga transmitir alguma coisa. Escrevendo não, eu não sou capaz, e, ainda assim, ela adora as bobagens que escrevo.

Pequena homenagem a uma grande pessoa na minha vida. Ela, realmente, sabe ser e sabe o tom da nossa amizade. Uma das minhas grandes amizade e um dos meus grandes amores.

:)

Um comentário:

  1. Tenho até vergonha de fazer um comentário, depois de palavras tão lindas como essas! Não vou nem arriscar a retribuir à altura! Não conseguiria, mas não me importo com isso também. Acho que o meu agradecimento de verdade e de coração é o suficiente! Tu não tens noção de como consegue me comover com essas palavras! Muito lindo mesmo! "Uma das minha grandes amizades e um dos grandes amores." De verdade. Obrigada. TE amo!! =)

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