quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PRETO

O branco me seria mais concreto que qualquer outra cor
Me seria apagado, destruído, acabado
Deletado, pra ser mais moderno, esquecido, pra ser mais adoentado
O branco seria o amor superado
O bobo, abestado
O dono do amor inatingível, o sonhador dos sonhos abstratos
O branco seria a paz
De um espírito distante, amargurado
O branco seria um papel, riscado por uma poesia não coesa
O branco seria tudo e nada, ao mesmo tempo
O branco seria a superação, seria a ação, abstração
O branco me seria simbólico, me seria forte, me seria concreto
Tão concreto quanto o preto, que emagrece
O branco me daria a forma, me seria uma prece
Rezada calada, na calada da noite, com sofrimento bastardo, amor inacabado
O branco seria meu amor, seria minha dor, meu pranto, meu sofrimento
O branco seria colorido, seria incolor, o branco seria o que eu devia sentir
O branco seria Deus, tão desacreditado por mim
O branco seria abstrato, inconcreto, o branco seria um cimento
O branco seria uma viga, uma laje, o branco me seria um traje
Um clamor de mim mesmo
O branco me seria um espelho
O branco me seria um reflexo de alma, o branco seria minha calma
O branco me seria de uma cor de dor
E de alegria
O branco seria o meu amor
Tão amado, tão clamado, tão exaltado
O branco me seria feliz
Mais feliz ainda se dele pudesse esquecer
O branco seria o oposto de tudo o que vivo
O branco seria o barroco neoclássico que surgiria
O branco me apagaria
O branco não seria o preto
Que me consome em seu luto, em sua falta de cor,
De amor.

Bruno Sampaio






(Acho que esse foi o texto que escrevi e publiquei com o menor intervalo de tempo, de todos, nem esperei esfriar)

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